Infraestrutura

Abastecimento de água potável em Maricá (RJ) – Análise de deficiências e abordagens de solução

1 Introdução

1.1 Problemática: A crise de água potável em Maricá

Maricá, uma cidade no estado brasileiro do Rio de Janeiro, enfrenta uma grave crise de água potável, apesar da lagoa de Maricá e precipitações anuais de 1.200 milímetros. Apenas 34,84% da população está conectada à rede de distribuição central, enquanto 55,68% dependem de poços artesianos parcialmente inseguros com entrega de água por caminhões-pipa e 4% dependem de poços rasos de águas subterrâneas contaminadas (SNIS, 2020). O tratamento inadequado de águas residuais – apenas 12,72% das águas residuais são coletadas – leva à infiltração de poluentes nas águas subterrâneas. As consequências para a saúde são graves: doenças diarreicas, hepatite A e danos renais crônicos são comuns em áreas mal atendidas. De acordo com o Atlas de Abastecimento de Água da Agência Nacional de Águas (ANA), o sistema de abastecimento de água potável consiste em uma captação de água em uma represa no rio Ubatiba com uma vazão de Q=80,0 L/s, seguida por uma estação de bombeamento de água bruta e duas tubulações de ferro fundido, uma com diâmetro de 150 mm e a outra com 250 mm e um comprimento de 6.100 metros. (Status 2010) Além deste sistema, o município também possui 4 poços que juntos fornecem uma vazão de 8,0 l/s.

1.2 Objetivo do relatório

Este relatório analisa as causas das deficiências e desenvolve estratégias de solução, considerando:

  • Poços profundos descentralizados para exploração de águas subterrâneas
  • Dessalinização da água do mar como alternativa sustentável
  • Modelos de financiamento baseados em royalties de petróleo.

1.3 Metodologia

  • Análise de dados: Estatísticas oficiais do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
  • Estudos hidrogeológicos: Aplicação da Lei de Darcy e da lente de Ghyben-Herzberg para modelagem do fluxo de águas subterrâneas.
  • Estudos de caso: Modelos de sucesso de Israel, incluindo usinas de dessalinização e hidroponia

2 Situação atual de abastecimento em Maricá

2.1 Bairros com déficit conhecido de infraestrutura

Em Maricá (RJ), existem historicamente bairros ou regiões rurais que ainda não estão totalmente conectados à rede central de água encanada, especialmente em áreas com rápido crescimento populacional ou zonas remotas. As seguintes afirmações-chave podem ser derivadas:

  • Existe uma disparidade urbano-rural (centro com taxa de conexão de aproximadamente 85% vs. Ponta Negra: 12%).
  • Uma densidade populacional de < 50 hab./km² geralmente indica áreas com suprimento insuficiente de água encanada (IBGE, 2023).

Aqui estão alguns antecedentes e áreas problemáticas conhecidas:

Inoã e Itaipuaçu:
Essas áreas de rápido crescimento no oeste de Maricá tiveram lacunas de abastecimento no passado, pois a infraestrutura não acompanhou o rápido crescimento populacional (incluindo novos empreendimentos habitacionais). Partes dessas regiões ainda dependem de poços ou transporte de água.

Ponta Negra e Bambuí:
Zonas mais rurais ou distantes da costa dessas áreas são parcialmente desconectadas da rede, pois os custos de desenvolvimento são altos e o assentamento é fragmentado.

Spar e Ubatiba:
Algumas áreas rurais aqui tradicionalmente utilizam soluções descentralizadas (cisternas, poços). Iniciativas como o Movimento Baía Viva ou Associações de Moradores nos bairros afetados frequentemente documentam deficiências infraestruturais.

2.2 Razões para a falta de abastecimento

  • Negligência histórica: Antes da fundação do SAMAE (2020), o abastecimento de água em Maricá era privatizado e sofria com falta de investimentos. Desde a década de 1990, apenas 10% dos fundos necessários foram investidos na infraestrutura hídrica (Agua e Saneamento, 2021).
  • Surto de urbanização: Devido ao boom econômico (incluindo a extração de petróleo), novas áreas residenciais estão surgindo, que só posteriormente são desenvolvidas. A população aumentou de 150.000 (2010) para mais de 200.000 (2023) – no entanto, a rede de distribuição não foi adaptada (IBGE).
  • Desafios topográficos: Áreas montanhosas ou de difícil acesso tornam a construção de tubulações cara e complexa.
  • A empresa Águas do Rio, como operadora da rede de distribuição, realizou apenas 40% da expansão planejada até agora. As razões citadas para os atrasos são obstáculos burocráticos, já que os processos de aprovação levam em média 18 meses, e há lacunas de financiamento de aproximadamente 30 milhões de R$ para a conexão de áreas rurais.

2.3 Deficiências da rede de distribuição

  • Deficiências técnicas: 40% dos tubos têm mais de 30 anos, vazamentos causam perdas de água de 35% (Aguas do Rio, 2022).
  • Distribuição desigual: A rede se concentra em áreas urbanas, enquanto as regiões rurais permanecem mal atendidas.

As seguintes fontes podem ser utilizadas para avaliar a situação:

2.4 Visão Estatística

O abastecimento de água de Maricá baseia-se em três pilares, todos apresentando déficits estruturais:

a) Rede de distribuição central (34,84%):
A rede de distribuição está obsoleta e apresenta perdas significativas. Segundo informações da empresa Águas do Rio, 35% da água captada é perdida devido a vazamentos e corrosão. Ademais, a infraestrutura concentra-se em áreas urbanas como Centro e Itaipuaçu, enquanto áreas como Ponta Negra permanecem subatendidas.

b) Poços artesianos, incluindo entregas de água por caminhões-pipa (55,68%):
Embora os poços artesianos explorem camadas aquíferas mais profundas, a superexploração comercial resulta na redução do nível do lençol freático em 1,2 metros por ano (CPRM, 2021). Além disso, proprietários comerciais de poços elevam os preços para até R$ 30/m³, tornando-se inacessível para famílias de baixa renda. A água desses poços comerciais privados é entregue às residências por caminhões-pipa. Contudo, baseado em nossa experiência, existem numerosos poços artesianos operados exclusivamente por proprietários privados. A distribuição exata dentro dos 53,68% infelizmente não está publicamente documentada.

c) Poços rasos de água subterrânea (4%):
Estes poços são particularmente suscetíveis a contaminações. 87,28% dos efluentes infiltram-se no solo sem tratamento, resultando em níveis de nitrato de até 45 mg/l (próximo ao limite da OMS de 50 mg/l) e concentrações de E. coli de 120 UFC/100 ml (Infosanbas, 2023).

Parâmetro
Maricá (Média)
Limite OMS
Risco
E. coli (Coliformes)
120 UFC/100 ml
0 UFC/100 ml
Diarreia, Cólera
Nitrato (NO₃⁻)
45 mg/l
50 mg/l
Metemoglobinemia ("Síndrome do Bebê Azul")
Condutividade
1.200 µS/cm
500 µS/cm
Salinização, Corrosão
Fonte: Infosanbas (2023), OMS (2017)

Tabela 1: Contaminação em poços vs. Limites da OMS

3 Fundamentos Hidrogeológicos

3.1 Bacias Hidrográficas

Maricá está localizada na bacia hidrográfica da Lagoa de Maricá, um corpo d’água salobra costeiro, alimentado pelo afluxo de pequenos rios e águas subterrâneas. As principais unidades hidrográficas são:

a) Lagoa de Maricá:

  • Área: 22,5 km² (INEA, 2021).
  • Hidrologia: Alimentada por fluxos de águas subterrâneas e eventos pluviométricos episódicos.
  • Contexto hidrogeológico: A lagoa funciona como um sumidouro de águas subterrâneas, para onde flui a água doce proveniente da Serra do Mar (CPRM, 2019).

b) Aquífero Serra do Mar:

Fontes:

3.2. Rios e Estratificações

O sistema fluvial de Maricá é caracterizado por rios intermitentes (rios temporários), que só transportam água durante a estação chuvosa:

a) Rio Ubatiba

  • Extensão: 12 km.
  • Característica: Substrato arenoso com baixa capacidade de retenção de água.
  • Importância: Principal afluente superficial da lagoa.

b) Rio Bambuí

  • Extensão: 8 km.
  • Hidrodinâmica: Só transporta água após chuvas intensas, mas infiltra-se rapidamente nos sedimentos arenosos.

c) Camadas sedimentares:

  • Formação Barreiras: Camadas arenosas com alta permeabilidade (k = 10⁻³ m/s).
  • Rocha Cristalina: Rochas graníticas em áreas montanhosas com aquíferos fraturados.

Fontes:

3.3 Reservatórios de Água em Áreas Montanhosas e Hidrogeologia

a) A Serra do Mar, como um aquífero fraturado, constitui a espinha dorsal hidroestratégica da região.

  • Profundidade: 50–200 m.
  • Produtividade: 10–30 m³/h (CPRM, 2019).
  • Exemplo: O poço artesiano na Fazenda São Bento da Lagoa produz 25 m³/h a uma profundidade de 150 m.

b) Formações rochosas vulcânicas

  • Camadas de lava basáltica: Armazenam água em cavidades.
  • comprovado por perfurações na Serra de Mato Grosso com 15 m³/h a 80 m de profundidade (SIGEO-RJ, 2020).

c) Hidrogeologia do Rio de Janeiro

A parte oriental e nordeste de Maricá é classificada como classe 4(FR) de acordo com o Mapa Hidrogeológico do Rio de Janeiro. A oeste e noroeste, é classificada como classe 6(FR).

FR é uma classificação de 3 zonas hidrolitológicas (Granular, Cárstica, Fraturada). A área FR no Rio de Janeiro, com uma superfície de 184.302 km², estende-se de norte a sul e a oeste até a Bacia do Paraná. As características litológicas são formações fraturadas indiferenciadas (embasamento cristalino), que compreendem uma série de rochas como granitos, rochas vulcânicas, metavulcânicas, gnaisses, migmatitos, granulitos, xistos e quartzitos. As características hidrogeológicas são encontradas em sua extensão regional, seu caráter predominantemente livre e sua grande heterogeneidade. Forma uma única unidade hidrogeológica, pois sua produtividade é condicionada pela presença de fraturas. A velocidade de fluxo é baixa, geralmente inferior a 10 m³/h, embora localmente possam ocorrer valores mais elevados. A composição heterogênea reflete a produtividade variável, sendo considerada de baixa a moderada (Classe 4). Em geral, as classes são definidas da seguinte forma:

Classe 1: Muito alta: Abastecimento de água de importância regional – Abastecimento de cidades e grandes sistemas de irrigação. Aquífero de nível nacional.
Classe 2: Alta – Características similares à classe anterior, mas dentro da média nacional de bons aquíferos.
Classe 3: Moderada – Fornecimento de água para abastecimento local em pequenas comunidades, irrigação em áreas limitadas.
Classe 4: Geralmente baixa, mas localmente moderada – Abastecimento de água para uso local ou consumo privado.
Classe 5: Geralmente muito baixa, mas localmente baixa – O abastecimento contínuo é dificilmente garantido.
Classe 6: Pouco produtiva ou não aquífera – Reservas de água insignificantes – o abastecimento é limitado ao uso de bombas manuais.

Fontes:

3.4 Qualidade da água e riscos

A água das regiões montanhosas é geralmente potável e possui baixa condutividade elétrica, com uma média de 107 μS/cm. No entanto, a condutividade pode aumentar significativamente devido a intrusões de água salgada e salobra. Os seguintes critérios e riscos devem ser considerados na avaliação da qualidade.

a) Contaminação natural:

  • Ferro (Fe²⁺): Até 1,2 mg/l em aquíferos da Formação Barreiras (limite da OMS: 0,3 mg/l).
  • Intrusão salina: Condutividade de 2.500 µS/cm próximo à costa (INEA, 2021).

b) Poluição antropogênica:

  • Nitratos: 45 mg/l em poços rasos (Água e Saneamento, 2022). Este valor pode ser significativamente maior em períodos de seca! Aproximadamente 80% da população infiltra o esgoto localmente através de fossas abertas (sumidouros).
Parâmetro
Serra do Mar (Aquífero Fraturado)
Formação Barreiras (Sedimentos)
Condutividade Hidráulica
1×10⁻⁵ m/s
5×10⁻⁴ m/s
Coeficiente de Armazenamento
0,001
0,15
Faixa de Profundidade
50 - 200 m
10 - 50 m
Fonte: CPRM (2019), SIGEO-RJ (2020).

Tabela 2: Parâmetros Hidrogeológicos.

3.5 Informações relevantes sobre a Lei de Darcy (1856) e a Lente de Ghyben-Herzberg

3.5.1 A Lei de Darcy como base do fluxo de águas subterrâneas

Esta lei descreve a velocidade com que a água flui através de meios permeáveis, como um filtro de areia ou uma pedra porosa. Auxilia, por exemplo, no cálculo da quantidade de água que um poço pode fornecer ou como os poluentes se espalham nas águas subterrâneas. Quanto mais permeável o solo, maior a pressão e menor o caminho, mais rápido a água flui. A velocidade do fluxo depende de três fatores:

  • Permeabilidade do material (por exemplo, a areia permite que a água passe facilmente, a argila quase não permite).
  • Pressão sobre a água (por exemplo, devido à inclinação ou bombeamento).
  • Comprimento do fluxo de água (quanto mais longo o caminho, mais lento o fluxo).

Matematicamente, a lei formulada por Henry Darcy descreve o fluxo volumétrico Q [m³/s] através de meios porosos da seguinte forma:

Q = −K * A * (dh/dl)

onde:

  • K: Condutividade hidráulica (solo costeiro de Maricá: 10⁻⁴ m/s).
  • A: Área da seção transversal vertical do aquífero perpendicular à direção do fluxo
  • (dh/dl): Gradiente hidráulico (inclinação do nível do lençol freático).

Aplicação em Maricá:
Próximo à costa, um gradiente íngreme (dh/dl=0,01) leva à rápida intrusão de água salgada. Cálculo de exemplo para uma área de seção transversal de fluxo de A=100 m² (10m x 10m vertical à direção do fluxo):

Q=−10⁻⁴ m/s ⋅ 100 m² ⋅ 0,01 = −0,0001 m³/s ==> (≈ −8,64 m³/dia) ==> Aproximadamente, portanto, cerca de 900 l de água salgada atingiriam horizontalmente um poço de 10 metros de profundidade com um diâmetro de 1 metro. O que efetivamente entra no poço depende da permeabilidade e das características do poço.

Sinal negativo: A direção do fluxo é oposta ao gradiente – a água salgada penetra em direção à terra. Consequentemente, o valor calculado representa a sucção do poço contra o gradiente natural, sendo que as bombas podem intensificar a sucção natural.

O cálculo da distância do poço à linha costeira baseia-se no gradiente hidráulico de (dh/dl) = 0,01 (1%). Isso corresponde a 1 metro de diferença de altura em 100 metros de distância. Ou seja: Com a altura assumida do nível de água doce de h = 1 metro acima do nível do mar, resulta-se uma distância do poço à linha costeira de 100 metros.

L = h / (dh/dl) = 1m/0,01=100m

Vide Léxico de Geotermia

Visualização 2:

Figura 2: Princípio da Lei de Darcy. Fonte: Wikimedia Commons.

3.5.2 A Lente de Ghyben-Herzberg: Água Doce vs. Água Salgada

A Lente de Ghyben-Herzberg explica como a água doce se situa como uma camada “flutuante” sobre a água salgada em ilhas e áreas costeiras próximas.
O fundamento está no fato de que a água doce é mais leve que a água salgada. Se o nível da água da lente de água doce está 1 metro acima do nível do mar, a lente se estende cerca de 40 metros abaixo do nível do mar, ou seja, geralmente para cada metro de coluna de água doce (x) acima do nível do mar, a lente de água doce tem aproximadamente x*40 metros de profundidade. As lentes de água doce podem ser eventualmente reconhecidas em poças, bem como em estuários fechados por areia e cascalho, que poderiam ser empurrados para cima pela água do mar. Seria questionável e necessário investigar se as áreas costeiras ao redor de Maricá são componentes de lentes de água doce e qual é a sua espessura (profundidade).
Os poços em lentes de água doce próximos à costa não devem ser mais profundos do que a espessura da lente de água doce, preferencialmente mais rasos. O uso excessivo permite que a água salgada se infiltre para cima (intrusão de água salgada) e contamina a água potável.

💡 Resumidamente: A água doce “flutua” sobre a água salgada – quanto mais se extrai, mais rápido o sal se aproxima!

Esse efeito significa a formação de uma camada linear de água doce sobre a água subterrânea salina em aquíferos costeiros. A relação entre a espessura da água doce h e a altura da coluna de água doce acima do nível do mar z é:

h = (ρs / (ρf−ρs)) * z

onde:

  • ρs: Densidade da água salgada (1.025 kg/m³).
  • ρf: Densidade da água doce (1.000 kg/m³).
  • z: Altura do nível de água doce acima do nível do mar
  • h: Espessura da lente de água doce

Cálculo de exemplo para Maricá:
Para z = 1m acima do nível do mar, temos:

h = (1.025 / (1.000−1.025)) * 1 = −41 m

Interpretação: Para cada 1 m de coluna de água doce acima do nível do mar, a lente de água doce se estende 41 m abaixo do nível do mar. Portanto, um poço sobre uma lente de água doce com 1 metro de coluna de água não deve ser mais profundo que 20-30 metros para evitar a intrusão de água salobra e salgada.

Visualização 3:

Figura 3: Limite entre água doce e salgada em aquíferos costeiros. Fonte: ResearchGate.

3.6 Conclusões para o Abastecimento de Água em Maricá

Para as áreas montanhosas (Serra do Mar), poderiam ser extraídos 20-30 m³/h por poço com perfurações no aquífero fraturado a partir de 100 metros de profundidade (dependendo da altitude).
Para as planícies costeiras, perfurações em lentes de água doce, cujo nível d’água está a 1 metro acima do nível do mar, devem ser realizadas a uma profundidade máxima de 20-30 metros, porém com o risco de intrusão salina em caso de bombeamento excessivo (máximo de 15 m³/dia por poço, dependendo da extensão e espessura da lente). Na ausência de lentes de água doce, devem ser realizadas perfurações de prospecção para localizar reservatórios subterrâneos de água doce. O fluxo volumétrico de água salina nestes poços de teste pode ser estimado aplicando-se a Lei de Darcy, considerando as condições do solo existentes e o gradiente hidráulico. Tendo em vista a proximidade com o terreno montanhoso adjacente, onde existem poços profundos com água suficiente a 100 – 200 metros de profundidade, pode-se presumir que seja possível encontrar água doce a uma distância de aproximadamente 1-2 quilômetros da linha costeira, a uma profundidade de cerca de 100 metros. Esta profundidade não deve causar intrusão de água salgada a partir da superfície (verticalmente). Investigações mais precisas devem ser conduzidas com hidrólogos e geólogos para determinar a localização exata do aquífero fraturado.

Fontes para análises aprofundadas:

Estas informações são integralmente corroboradas por dados públicos da CPRM, INEA e estudos acadêmicos. Para perfis detalhados de perfuração ou dados de testes de bombeamento, recomenda-se uma solicitação direta ao CPRM-Serviço Geológico do Brasil.

4 Abordagens de Solução para a Melhoria do Abastecimento de Água Potável em Maricá

4.1 Abordagem de Solução 1: Poços Profundos Descentralizados

4.1.1 Profundidades e Técnicas de Perfuração

A exploração de poços profundos requer investigações geológicas precisas e técnicas modernas de perfuração:

a) Método de Perfuração Rotativa:

  • Princípio: Uma broca rotativa fragmenta a rocha, enquanto um fluido de perfuração (bentonita) estabiliza o poço.
  • Adequação: Ideal para profundidades de até 300 m em rocha granítica (áreas montanhosas de Maricá).
  • Custos: Aproximadamente 300.000 R$ por poço (Água e Saneamento, 2023).

b) Perfuração por Percussão:

  • Princípio: Uma ferramenta pesada de cinzelamento fragmenta a rocha por força de impacto.
    Adequação: Econômica para camadas sedimentares macias em terras baixas.
  • Risco: Maior perigo de intrusão de água salgada se a profundidade for insuficiente.
Localização
Profundidade de Perfuração
Investimento
Custos Operacionais/Ano
Capacidade de Água
Área Montanhosa (Perfuração Profunda)
200 m
300.000 R$
100.000 R$
até 600 m³/dia, recomendado 50 m³/dia para 100 residências
Planície (Perfuração Profunda)
100 m
150.000 R$
50.000 R$
50 m³/dia, investigações e perfurações de teste necessárias
Planície (Lente de Água)
20 m
35.000 R$
10.000 R$
30 m³/dia, recomendado 15 m³/dia para 30 residências

Tabela 3: Comparação de Custos de Poços Perfurados

4.1.2 Implementação Técnica de Poços Descentralizados em Maricá

Nas seções anteriores, foram apresentadas as condições hidrogeológicas e as possibilidades derivadas para a extração de água através de poços. Foram recomendadas taxas de extração e feitas declarações sobre custos de construção e operação. Os seguintes locais foram considerados:

a) Áreas Montanhosas (Serra de Maricá):

  • Vantagens: Baixa concentração de sal (< 500 mg/l), taxas de extração mais elevadas, água limpa
  • Desvantagens: Altos custos de perfuração (300.000 R$/poço) devido à rocha granítica e à profundidade de perfuração entre 100 e 200 metros

b) Planície Costeira:

  • Vantagens: Menores profundidades de perfuração (20-30 metros na presença de lentes de água doce), mas com risco de intrusão de água salgada em caso de uso excessivo.
  • Para profundidades de perfuração de 100+ metros, os locais devem ser determinados por perfurações de teste

O conceito de estabelecimento de poços descentralizados em áreas municipais que não estão conectadas à rede de abastecimento poderia ser aplicado nas seguintes situações:

Os poços são perfurados de forma descentralizada onde a conexão à rede de abastecimento não foi realizada e não há previsão de quando ocorrerá o desenvolvimento.

Um poço é projetado para abastecer no máximo 100 residências, considerando a infraestrutura necessária para a instalação das linhas de abastecimento. Consequentemente, células menores também devem ser levadas em consideração.

As células a serem abastecidas devem preferencialmente estar localizadas nas regiões montanhosas, pois aqui a probabilidade de alcançar o aquífero fraturado é maior do que na costa. Seriam necessárias perfurações de teste para a faixa litorânea. Além disso, a abordagem de solução mostrada em 4.2.3 seria mais adequada para regiões costeiras.

A construção de poços perfurados requer o conhecimento preciso e a divulgação das áreas já atendidas pela CEDAE e atualmente pela Agua do Rio, seus planos e procedimentos em processo de aprovação, juntamente com a composição de custos para serviços de desenvolvimento e manutenção. Da mesma forma, a aceitação do abastecimento de água descentralizado pela população deve ser esclarecida por meio de pesquisas. Para isso, devem ser desenvolvidos conceitos de financiamento coerentes que melhorem significativamente a situação de abastecimento e os encargos financeiros da população atualmente não atendida.

4.2 Abordagem de Solução 2: Dessalinização da Água do Mar

💡 80 por cento das plantas de dessalinização em todo o mundo utilizam tecnicamente a osmose reversa. 20 por cento são baseados na dessalinização térmica.

4.2.1 Osmose Reversa (Reverse Osmosis, RO)

Princípio e Fundamentos Físicos
A osmose reversa utiliza membranas semipermeáveis para remover sal e impurezas da água do mar. A água do mar é pressionada através de uma membrana polimérica sob alta pressão (55-70 bar), cujos poros têm um tamanho de 0,0001 µm – pequeno o suficiente para reter íons Na⁺ e Cl⁻. A necessidade de energia resulta da superação da pressão osmótica, que para a água do mar é de aproximadamente 27 bar.

Balanço Energético

E = P * Q / η

onde:

  • P: Pressão de operação (60 bar = 6.000 kPa)
  • Q: Taxa de fluxo (por exemplo, 1.000 m³/dia)
  • η: Eficiência das bombas (≈ 80%)

Cálculo de exemplo:
Para uma planta com um volume produzido de 1.000 m³/dia, o consumo é de aproximadamente 2083 kWh/dia.

E = 6.000.000Pa * 1.000 m³/d / 0,8 = 7.500.000.000 J = 2038 kWh (dependendo da implementação tecnológica).

Vantagens
Desvantagens
Baixos custos operacionais
Alta demanda de energia
Escalável modularmente
Descarga de sal no mar
Requisito de espaço reduzido
Desgaste da membrana

Tabela 4: Vantagens e desvantagens de uma planta RO

Projeto de Referência: Planta de Ashkelon (Israel)

– Capacidade: 396.000 m³/dia
– Tecnologia: RO de dois estágios com recuperação de energia
– Custos: 0,50 USD/m³ (IDE Technologies, 2023).

Veja também: Seawater-Reverse-Osmosis-SWRO-Brochure

4.2.2 Destilação Flash Multiestágio (Multi-Stage Flash, MSF)

Princípio e Termodinâmica
O MSF utiliza a transição de fase da água a pressão reduzida. A água do mar é descomprimida progressivamente em câmaras sucessivas, onde evapora a um ponto de ebulição mais baixo. O vapor condensa nos tubos de resfriamento e é coletado como água doce. Cada estágio opera a um ponto de ebulição 2-3°C mais baixo que o anterior.

Demanda de energia:

  • Necessidade de calor: 10-27 kWh/m³ (geração de vapor a partir de combustíveis fósseis)
  • Tamanho típico da planta: 50.000-1.000.000 m³/dia

Projeto de Referência: uma das maiores usinas de dessalinização do mundo – Ras Al-Khair (Arábia Saudita)

  • Capacidade: 1,036 milhão de m³/dia (correspondente à necessidade de 3,5 milhões de pessoas).
  • Tecnologia: Sistema híbrido de MSF (60%) e RO (40%).
  • Consumo de energia: 10,5 kWh/m³ (este valor aparentemente baixo resulta da operação mista de MSF e RO)
  • Custos: 1,2 USD/m³ (SWCC, 2023).
  • Operador: Saline Water Conversion Corporation (SWCC).

4.2.3 Wave2O: Dessalinização Baseada em Energia das Ondas

Tecnologia e Inovação
O Wave2O utiliza a energia cinética das ondas do mar para acionar bombas que pressionam a água do mar através de membranas de RO. As ondas do mar são uma fonte de energia bastante constante, disponível particularmente nas costas oceânicas e, portanto, em muitas áreas ao redor do mundo. Utilizando esta fonte de energia, é possível reduzir os custos operacionais das plantas de osmose reversa a tal ponto que possam ser construídas mesmo em áreas remotas que não têm acesso imediato a enormes recursos de energia elétrica.

No projeto Wave2O, a água do mar de um poço offshore (entrada de água do mar) é alimentada a uma instalação de pré-tratamento de múltiplos estágios. O poço offshore está localizado a uma profundidade e distância no mar que limita a priori a carga de sedimentos na água. Na instalação de pré-tratamento, a água é purificada de macropartículas mecânicas em um processo de filtração de múltiplos estágios. A água mecanicamente purificada é então conduzida através de outra tubulação para um conversor de energia das ondas instalado no fundo do oceano, que funciona de maneira similar à alavanca de bombeamento de uma bomba de jardim manual. Esta alavanca (Oscillating Wave Surge Converter – OWSC) captura a força do movimento horizontal das ondas e, através dos movimentos de vai e vem da alavanca, é gerada uma pressão mecânica que conduz a água alimentada através de outra tubulação com esta pressão para uma instalação de filtração de osmose reversa (RO) localizada em terra. É aqui que ocorre a dessalinização propriamente dita. Nesta instalação de nanofiltração, são utilizadas membranas de poliamida ou PTFE com tamanhos de poros de 0,6-5 nm, que retêm íons de sal, bactérias (por exemplo, Vibrio cholerae), vírus e metais pesados. A água assim filtrada pode agora ser armazenada em tanques ou alimentada em uma rede de tubulações. Em uma quarta tubulação, a salmoura extraída é finalmente introduzida na água do mar através de um pulverizador instalado no fundo.

A Cordis Europa escreve o seguinte sobre a geração de energia em seu relatório resumido do programa de financiamento H2020 W2O:

“… Eletricidade do mar

O módulo Wave2O consiste em dois geradores de ondas e dois grandes contêineres de 20 pés, um dos quais contém o equipamento para geração de eletricidade e o outro produz água doce. Os geradores de ondas estão conectados aos contêineres através de mangueiras flexíveis, pelas quais a água do mar pressurizada flui para e dos geradores de ondas. “A água do mar a ser purificada é obtida de uma fonte no mar aberto, longe de influências contaminantes. Em seguida, passa por um sistema de filtragem de múltiplos estágios antes de ser alimentada em um sistema de distribuição que divide os volumes de água em dois caminhos”, explica Ceberio.

A energia mecânica da força das ondas é utilizada pelos geradores de ondas para acionar dois acionamentos rotativos, que aumentam a pressão da água do mar alimentada para 7.000 kPa e então a bombeiam para a costa. Aqui, é estabilizada por um acumulador hidropneumático para compensar pulsações de pressão indesejadas antes de fluir para o sistema de osmose reversa. A segunda parte da água do mar é direcionada para um sistema de recuperação de energia. Este sistema recupera energia da salmoura, que está sob alta pressão e é o subproduto do processo de dessalinização. A energia é então utilizada para aumentar a pressão na água do mar a ser purificada para 7.000 kPa. A recuperação de energia proporciona uma maior eficiência na conversão, necessária para operação independente.

A água do mar afluente com pressão estabilizada é então agrupada e alimentada em uma unidade padrão de osmose reversa a uma pressão operacional de 6.200 kPa. Aproximadamente 35% da água é convertida em água doce. Embora esta seja uma taxa de recuperação bastante baixa, oferece vantagens em termos de menor necessidade de manutenção, vida útil prolongada das membranas e menor teor de sal na salmoura. A salmoura rica em energia é então utilizada para controlar a pressão de enchimento da água alimentada.

Água limpa com menos emissões de CO2

O Wave2O poderia fornecer acesso a energia de baixo carbono para milhões de pessoas vivendo em áreas rurais e remotas. “Cada instalação produz 4.000 metros cúbicos de água doce por dia. Isso é suficiente para atender às necessidades de 40.000 pessoas e reduzir as emissões de CO2 em 4.346 toneladas por ano. Isso equivale à quantidade que seria economizada se houvesse 936 carros a menos nas estradas”, diz Ceberio. “Nossa oferta é direcionada a comunidades em países em desenvolvimento e estados insulares que tipicamente não têm grande capacidade de rede e não podem arcar com o dinheiro ou o tempo para construir e operar sistemas baseados em rede elétrica”, acrescenta.

O sistema de tratamento de água de médio porte, independente da rede elétrica e operado com energia renovável, é projetado para países em desenvolvimento e estados insulares fora da UE. Dentro da Europa, o W2O pode beneficiar países e territórios ultramarinos pertencentes aos estados membros da UE, como as Ilhas Canárias ou a Nova Caledônia…”

Não devem ser esquecidos os riscos técnicos, como a corrosão pela água salgada e a resistência a tempestades dos componentes offshore. Da mesma forma, existem obstáculos políticos em alguns países para, por exemplo, permitir procedimentos de aprovação para perfurações marítimas em áreas de proteção ambiental. A escalabilidade atual está limitada a instalações com capacidade de 4.000 m³/dia – grandes cidades necessitam de >100.000 m³/dia.

Wave2O – Cálculo de exemplo para Maricá

Com um consumo de 100 litros de água por pessoa por dia, uma instalação poderia abastecer 40.000 pessoas diariamente. Isso corresponderia a 400 caminhões-tanque por dia, com capacidade de 10 m³ cada. Com apenas 4 instalações ao longo do trecho costeiro do município de Maricá, 160.000 pessoas poderiam ser abastecidas diariamente com água potável. Com uma população atual de aproximadamente 200.000 habitantes, isso representaria uma capacidade de abastecimento de 80% da população total, estando assim preparada também para futuros planos de urbanização. Os custos estimados para 4 instalações seriam de aproximadamente R$ 240 milhões, incluindo custos adicionais e excluindo a expansão da rede de distribuição. Uma divisão dos custos ou das fases de construção em 4 anos tornaria o financiamento total mais viável.

Bloco de Custos
Custos Estimados (€)
Explicação
Infraestrutura Offshore
3–4 Milhões €
Instalação dos conversores de energia das ondas, poços offshore e tubulações de titânio.
Módulos de Dessalinização
1,5–2 Milhões €
Nanofiltros (Poliamida/PTFE), sistemas de bombeamento, unidades de pré-tratamento.
Logística Instalação
1–1,5 Milhões €
Transporte para Cabo Verde, navios especializados, trabalhos de mergulho.
Reserva de Manutenção
0,5–1 Milhão €
Reservas para proteção contra corrosão, troca de filtros, reparos.

Tabela 5: Detalhamento de custos estimados para uma instalação Wave2O de 4.000 m³

Tipo de Instalação
Custos de Capital por m³/Dia
Exemplo
Wave2O (Cabo Verde)
≈1.500–2.000 €
4.000 m³/dia por 6–8 milhões €
Instalação RO Convencional
≈800–1.200 €
Ras Al-Khair: 1,1 milhão m³/dia por ~1 bilhão USD
Instalação MSF
≈1.500–2.500 €
Altos custos de energia, mas baixos custos de capital em estados petrolíferos

Tabela 6: Comparação com outras instalações de dessalinização

O projeto Wave2O foi financiado pelo Departamento de Energia dos EUA através de bolsas de pesquisa contínuas, pelo Banco Africano de Desenvolvimento no âmbito do programa “Sustainable Energy for Africa (SEFA)”, bem como pela União Europeia no âmbito dos programas “Horizon 2020” e “Interreg Europe”. Por trás do Wave2O está a empresa Resolute Marine Energy (RME), sediada em Boston, Massachusetts, fundada em 2007 por P. William Staby. A empresa possui uma subsidiária europeia “Resolute Marine Limited” com sede na Irlanda. Os desenvolvimentos inovadores do Wave2O perseguem, entre outros objetivos, baixos investimentos de capital combinados com operação e manutenção simples, escalabilidade dos sistemas, sustentabilidade ambiental, baixos custos operacionais para a produção de água potável e rápida implantação. Por exemplo, todo o sistema pode ser carregado em contêineres de navio padrão e, portanto, estar operacional em poucos dias. Os custos de aquisição para uma infraestrutura offshore com capacidade de dessalinização de 4.000 m³/dia (conversores de ondas, filtros de titânio) são estimados em 7-9 milhões € por instalação.

A equipe principal possui mais de 140 anos de experiência coletiva em engenharia marítima. Marcus Gay, Vice-Presidente de Desenvolvimento de Produto, lidera o desenvolvimento do Wave2O (Fonte: Transcrição do YouTube 2021). A RME colabora com instituições governamentais mencionadas e instituições de pesquisa como o MIT.

Marcus Gay – Aplicação Resolute Marine Waves to Water

Marcos tecnológicos do Wave2O:

  • 2013: Primeiro protótipo de um conversor de energia das ondas (Conversor de Surto de Ondas Oscilantes) em frente a Jeannette’s Pier, Carolina do Norte.
  • 2017: Início dos estudos de viabilidade em Cabo Verde, financiados por uma subvenção SEFA de 1 milhão de dólares.
  • 2020: Financiamento da UE no âmbito do programa Horizon 2020 (ID CORDIS 789695) para demonstração de viabilidade econômica.
  • 2024: Comissionamento da primeira instalação comercial em Cabo Verde (CORDIS).
Tecnologia
Necessidade Energética (kWh/m³)
Custo por m³ (USD)
Emissões de CO₂ (kg CO₂/m³)
Capacidades (m³/Dia)
Fontes
MSF
10–27
1,5–2,5
15–25
10.000–100.000; novo 200.000 (EAU - Jebel Ali)
[1], [2]
RO Convencional
3-10
0,5–1,5
2–5
1.000–500.000
[3], [4]
Wave2O
1,5–3 (energia das ondas)
0,8–1,5
0,5–1,5 (indireto)
1.000–4.000
[5], [6]
RO solar (Desolinator)
2–5 (alimentação solar)
0,7–1,5
0,1–0,5 (indireto)
5 - 50
[7]
RO solar (Solarwatersolutions)
300
[8]

Tabela 7: Parâmetros de algumas tecnologias

Fontes:

Fontes adicionais:

💡 Por que o Wave2O necessita de 1,50 USD (1,40 €)/m³ para a instalação em Cabo Verde, se a planta funciona de forma autônoma apenas com energia das ondas?

Os custos não são compostos por custos de energia, mas pelos seguintes itens:

  • Custos de capital ~0,70 € Instalação offshore, materiais (aço inoxidável, titânio).
  • Manutenção de filtros ~0,30 € Nanofiltros (poliamida/PTFE) a cada 5-7 anos.
  • Manutenção/Inspeção ~0,20 € Robôs submarinos, proteção contra corrosão.
  • Financiamento ~0,20 € Amortização de fundos de fomento da UE.

A demanda de energia para a dessalinização pura é de 0,00 kWh/m³ (Resolute Marine, 2022) e, portanto, é completamente independente do fornecimento externo de energia.

💡 A instalação do projeto piloto em Cabo Verde, que recebeu 930 mil USD em financiamento do Banco Africano de Desenvolvimento para estudos de viabilidade, produz diariamente 4.000 metros cúbicos de água doce a um preço de aproximadamente 1,4 €/m³. No estudo de caso da planta MSF Ras Al-Khair (Arábia Saudita), na parte superior do relatório, são indicados custos de 1,2 USD/m³. Isso parece estar em contradição com os custos mais elevados consumidos pela tecnologia Wave2O.

A razão para isso pode ser encontrada no fato de que a Arábia Saudita utiliza gás natural gratuito ou altamente subsidiado para plantas MSF. Os preços de energia estão em torno de ~0,02 USD/kWh (vs. UE: ~0,30 €/kWh). Assim, os custos de energia para 30 kWh/m³ são de apenas 0,6 USD/m³ (em vez de ~9 USD/m³ na Europa). Além disso, há efeitos de escala, pois Ras Al-Khair é uma das maiores plantas de dessalinização do mundo, com 1,1 milhão de m³/dia. A produção em massa reduz os custos fixos por m³. Ademais, há financiamento direto do estado saudita, que opera sem expectativa de lucro e custos de crédito.

A aparente contradição se resolve quando se consideram subsídios, efeitos de escala e custos ocultos, pois o MSF na Arábia Saudita é tão econômico apenas devido aos preços de energia politicamente subsidiados e ao financiamento estatal. O Wave2O reflete custos de mercado realistas sem subsídios – mas com benefícios climáticos e viabilidade futura.

O Wave2O representa uma mudança de paradigma na tecnologia de dessalinização. Através do uso direto da energia das ondas e da eliminação de redes elétricas, a tecnologia não é apenas mais econômica, mas também ecologicamente mais sustentável do que os métodos convencionais. A Resolute Marine Energy provou com a instalação em Cabo Verde que a escalabilidade é possível – agora o foco está na disseminação global. No entanto, permanecem desafios como a coordenação política e a adaptação a condições meteorológicas extremas. Com parceiros adicionais como o MIT e a Ocean Oasis, a próxima geração de plantas de dessalinização poderia se tornar ainda mais eficiente e versátil.

4.2.4 Dessalinização Solar

Princípio e Aplicação
De acordo com nossas pesquisas, parece ser verdade que as plantas de dessalinização de água do mar movidas a energia solar não possuem as capacidades de dessalinização das plantas industriais convencionais de MSF, RO ou Wave2O. A abordagem de operar plantas de dessalinização movidas a energia solar tem um efeito positivo do ponto de vista ambiental. Existem as seguintes tecnologias:

a) Aquecimento solar térmico: Espelhos concentram a luz solar em um tubo absorvedor que aquece a água do mar a 90 °C.
b) Evaporação a vácuo: O vapor resultante condensa em uma câmara com pressão reduzida.
c) Osmose reversa movida a energia solar

Sugestões para Maricá sobre o uso de plantas menores de osmose reversa movidas a energia solar:

Para Maricá, poderia ser representado um fornecimento descentralizado para áreas remotas próximas à costa. No entanto, deve-se considerar, por exemplo, o volume de produção da planta de osmose reversa SW300 da empresa Solarwatersolutions de 300 m³ em relação às residências a serem atendidas. A planta da empresa Desolenator com destilação solar térmica (coletores solares evaporam água que é condensada) tem uma capacidade de aproximadamente 5 m³/dia, escalável para 50 m³, vide também 4.2.6/c. (Informação de estudos de caso – informações diretas não são encontradas no site). Existem projetos subsidiados, como por exemplo, uma planta movida a energia solar com capacidade de 2.500 L/dia. Financiado pelo KFW, implementado pela empresa de Colônia MFT Membran Filtrationstechnik GmbH e construído na vila colombiana de La Guajira.

4.2.5 Visão Global: Países com o Maior Número de Plantas de Dessalinização

As tecnologias de dessalinização estão difundidas globalmente, especialmente em regiões com escassez de água. A tabela a seguir lista os 10 principais países por capacidade de dessalinização:

País
Capacidade de Dessalinização (Milhões m³/Dia)
Participação no Mercado Global
Tecnologia Principal
Arábia Saudita
5,9
34%
MSF, RO
Emirados Árabes Unidos (EAU)
3,8
22%
MSF
EUA
2,1
12%
RO
China
1,5
9%
RO, MED
Austrália
1,2
7%
RO
Espanha
0,9
5%
RO
Kuwait
0,8
4%
MSF
Argélia
0,6
3%
RO
Israel
0,6
3%
RO
Egito
0,5
3%
RO, MED

Tabela 8: Capacidade Global de Dessalinização (2023) de: International Desalination Association (IDA, 2023), Global Water Intelligence (GWI).

4.2.6 Exemplos de Alguns Fabricantes e Projetos de Referência

a) IDE Technologies (Israel) com os seguintes processos:

  • RO (Osmose Reversa): Membranas energeticamente eficientes com sistemas de recuperação.
  • MED (Destilação de Múltiplo Efeito): Evaporação de baixa temperatura para alta eficiência.

Projetos de referência:
Planta de Dessalinização de Ashkelon (Israel):

  • Capacidade: 396.000 m³/dia, para 15% da demanda diária
  • Custo: 0,50 USD/m³.
  • Tecnologia: Osmose Reversa (RO)
  • Fonte de Água: Água do Mar
  • Tipo de Contrato: BOT por 25 anos
  • Cliente: Autoridade de Água de Israel
  • Arranjador Financeiro: Banco Leumi
  • Uso: Água Potável
  • Data de Comissionamento: 2005

Fonte: IDE Projeto Ashkelon

Planta de Dessalinização de Carlsbad (EUA):

  • Capacidade: 204.000 m³/dia.
  • População Atendida: 400.000 pessoas.
  • Fonte de Água: Água do Mar da Lagoa
  • Tecnologia: Osmose Reversa (RO)
  • Tipo de Contrato: Engenharia, Fornecimento, Supervisão de montagem, inicialização e comissionamento, Operação Manutenção (OM)
  • Localização: Carlsbad, CA, EUA
  • Cliente: Poseidon
  • Comprador: Autoridade de Água do Condado de San Diego
  • Uso: Água Potável
  • Data de Comissionamento: 2015

Fonte: IDE Dessalinização de Carlsbad

b) Resolute Marine (EUA) – Tecnologia Wave2O utilizando energia das ondas para geração de pressão para membranas RO.

Projeto Piloto em Cabo Verde:

  • Capacidade: 4.000 m³/dia.
  • Custo: 1,50 USD/m³.

c) Desolenator (Países Baixos) como dessalinização solar através da combinação de fotovoltaico e evaporação térmica

Projeto Piloto no Quênia:

  • Capacidade: 20 m³/dia.
  • Público-alvo: Comunidades rurais sem conexão elétrica.

Projeto na Jordânia:

  • Capacidade: 50 m³/dia.
  • Inovação: Integração de armazenamento em baterias para operação noturna.

Outros Fabricantes e Tecnologias:

FabricantePaísTecnologiaCapacidade (m³/dia)
IDE TechnologiesIsraelOsmose Reversa (RO)Até 624.000
Doosan EnerbilityCoreia do SulOsmose Reversa (RO)Até 500.000
AccionaEspanhaOsmose Reversa (RO)Até 500.000
Veolia Water TechnologiesFrançaOsmose Reversa (RO)Até 400.000
HyfluxCingapuraOsmose Reversa (RO)Até 318.500
Suez Water Technologies SolutionsFrança/EUAOsmose Reversa (RO)Até 300.000
Toray IndustriesJapãoOsmose Reversa (RO)Até 200.000
Sidem (Grupo Veolia)FrançaDestilação Flash Multietapas (MSF)Até 800.000
AbengoaEspanhaDestilação Flash Multietapas (MSF)Até 500.000
Fisia ItalimpiantiItáliaDestilação Flash Multietapas (MSF)Até 400.000
Doosan EnerbilityCoreia do SulDestilação Flash Multietapas (MSF)Até 300.000
IDE TechnologiesIsraelDestilação de Múltiplo Efeito (MED)Até 400.000
Sidem (Grupo Veolia)FrançaDestilação de Múltiplo Efeito (MED)Até 300.000
Fisia ItalimpiantiItáliaDestilação de Múltiplo Efeito (MED)Até 150.000
General ElectricEUAEletrodiálise (ED)Até 50.000
Evoqua Water TechnologiesEUAEletrodiálise (ED)Até 20.000
Resolute Marine EnergyEUAEnergia das Ondas (Wave2O)Até 4.000
Solar Water SolutionsFinlândiaDessalinização SolarAté 300
MemsysAlemanhaDestilação por MembranaAté 500
Ocean Oasis ASNoruegaEnergia das OndasAté 200
DesolenatorPaíses BaixosDessalinização SolarAté 100
MITEUAUnidade de Dessalinização Portátil10 Litros / Hora

5 Uma breve digressão: Hidroponia e possíveis impactos positivos para Maricá

A hidroponia é um método inovador de cultivo no qual as plantas são cultivadas sem solo, crescendo em uma solução aquosa rica em nutrientes. Esta tecnologia permite um controle preciso sobre o fornecimento de nutrientes e água às plantas, resultando em maiores rendimentos de colheita e uso mais eficiente dos recursos. Um exemplo impressionante da aplicação bem-sucedida da hidroponia é a irrigação no deserto do Negev em Israel. Nesta região extremamente árida, sistemas hidropônicos são utilizados para realizar uma agricultura eficiente, produzindo altos rendimentos apesar das condições adversas. A tecnologia utiliza água de forma econômica e permite o cultivo de vegetais e outras plantas úteis em áreas que seriam inadequadas para métodos de cultivo tradicionais.

Fatores de sucesso:

  • Dessalinização: 55% da água potável proveniente de instalações de RO.
  • Reciclagem de águas residuais: 90% das águas residuais são tratadas para água de irrigação.

Em Maricá, um município do estado do Rio de Janeiro, a hidroponia poderia representar uma solução promissora para os desafios agrícolas, especialmente considerando a escassez de água na região. O programa de incentivo Horta em Casa, que visa promover o cultivo de vegetais em jardins domésticos, enfrenta limitações devido aos recursos hídricos restritos. Sem um suprimento adequado de água, é difícil alcançar os rendimentos de colheita desejados, e o programa não pode realizar seu pleno potencial. Neste contexto, a hidroponia poderia oferecer uma alternativa viável. Com disponibilidade suficiente de água, que poderia ser fornecida através de dessalinização da água do mar, uso de poços descentralizados ou águas residuais tratadas, o método hidropônico permite o cultivo de plantas com rendimentos significativamente maiores do que a irrigação convencional. Simultaneamente, o consumo de água é substancialmente reduzido, pois a água circula em um sistema fechado e não é perdida por infiltração ou evaporação.

A implementação da hidroponia em Maricá poderia não apenas aumentar os rendimentos das colheitas, mas também reduzir a dependência de métodos tradicionais de irrigação. Isto seria um passo importante para garantir a segurança alimentar na região e adaptar-se aos desafios das mudanças climáticas, uma vez que raramente se encontram vegetais frescos nos supermercados de Maricá. A tecnologia oferece a possibilidade de praticar agricultura sustentável mesmo em áreas com recursos hídricos limitados e, portanto, poderia representar uma solução de longo prazo para os problemas agrícolas e (em menor escala) ‘hortícolas’ em Maricá.

6 Conclusão e Recomendações para Implementação

Curto prazo (2025-2027):

  • Construção de 20 poços profundos em áreas montanhosas, introduzindo uma taxa de água para cobrir, pelo menos parcialmente, os custos de produção e operação.

Médio prazo (2027-2030):

  • Construção de 3-4 usinas de dessalinização Wave2O ao longo do trecho costeiro Itaipuaçu – Ponta Negra

Longo prazo (2031-2035):

  • Expansão da rede de distribuição com água fornecida por Wave2O.
  • Introdução da hidroponia para reduzir a demanda de água na agricultura.

A infraestrutura hídrica sustentável fortalece a imagem como ‘Vitrine do Brasil’ e gerencia o crescimento populacional projetado para 250.000 habitantes até 2035. Através da combinação de poços profundos, dessalinização e hidroponia, Maricá pode não apenas superar sua crise hídrica, mas também servir como modelo de uso sustentável de recursos no Brasil.

Estamos à disposição para discussões adicionais sobre planejamento e implementação. Para entrar em contato, por favor, utilize:

info@marica-rj.com

Uwe Haas hat sein Studium der Physik an der Universität Greifswald (Deutschland) in 1990 abgeschlossen. Einige Jahre hat er in Forschung und Entwicklung an der Technischen Hochschule in Wismar gearbeitet. Aus gesellschaftlichen und privaten Gründen wurde er als IT Berater tätig, verlor aber nie seine Hingabe zur Physik. Über einen Zeitraum von 14 Jahren lernte er einige Bereiche Nord- und West-Brasiliens durch viele Reisen kennen, um dann in 2023 den Standort Maricá - RJ als strategischen Rückzugsort zu wählen. Aber auch hier in der Stadt mit viel Potenzial und Gegensätzen ist der Wunsch nach konstruktiven Beiträgen zur Veränderung und Verbesserung vorhanden.